Questões raciais deixam Obama em 'saia justa'
AFP - Agence France-Presse
Publicação: 19/08/2014 17:07
Disponível em: http://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2014/08/19/interna_internacional,560249/questoes-raciais-deixam-obama-em-saia-justa.shtml
Na enorme foto de Barack Obama exibida pelos manifestantes na pequena
cidade de Ferguson, uma mensagem escrita ao primeiro presidente negro
dos Estados Unidos pede: "Por favor, venha logo!"
O cartaz é um dos muitos que os manifestantes exibem nesta cidade do
Missouri (centro), onde um adolescente negro desarmado foi baleado e
morto por um policial branco há dez dias, provocando protestos cada vez
mais violentos.
O fato resume em parte as elevadas expectativas da comunidade negra
americana com a administração Obama, mas também diz respeito a uma
questão que preocupa o presidente desde que assumiu o poder em 2009: Ele
deve se envolver pessoalmente em episódios locais que tenham
componentes raciais evidentes?
Em alguns estados do sul dos Estados Unidos, a segregação racial foi
abolida há apenas meio século, mas o país tem agora um presidente está
em uma situação delicada e altamente controversa.
Obama se manifestou na segunda-feira após os distúrbios. Em um
discurso muito cauteloso, exigiu moderação às forças de segurança e aos
manifestantes, pedindo que evitassem a violência porque ela apenas
enfraquecem a busca pela justiça.
Um abismo de desconfiança.
Mas quando perguntado se pretendia intervir pessoalmente em um drama
que abala todo o país há mais de uma semana, Obama pareceu afastar essa
possibilidade, da mesma forma que uma visita simbólica a Ferguson.
No entanto, e claramente desconfortável, ele abordou a questão a
partir de uma perspectiva mais ampla: como os americanos devem
aproveitar este momento para redescobrir a nossa humanidade comum",
afirmou.
"Eu já disse isso antes, em muitas comunidades há um abismo de
desconfiança entre os moradores locais e as forças de segurança",
admitiu.
"Em muitas comunidades, muitos jovens de cor foram marginalizados e são vistos apenas como uma fonte de medo", ressaltou.
No entanto, o presidente também advertiu que a luta contra a
discriminação racial é um projeto de longo prazo com o qual os Estados
Unidos se comprometeram há 200 anos.
Desde o final de seu primeiro mandato, Obama - eleito com o forte apoio das minorias - alertou para expectativas irreais.
"Nunca aceitei a ideia de que a minha eleição significaria a entrada
em uma era pós-racial", disse à revista Rolling Stone de abril de 2012.
Mensagens fortes
Sherrilyn Ifill, presidente do Fundo de Defesa Legal (NAACP), braço
jurídico da maior organização de defesa das liberdades civis nos Estados
Unidos, declarou que é correto o presidente manter uma distância dos
eventos diários. "Temos que ter muito cuidado para não ficarmos viciados em pedir ao presidente que fale em todos os momentos", opinou.
Ifill ressaltou que a Casa Branca apoiou nos últimos dias um
inquérito federal civil sobre os acontecimentos em Ferguson e uma
necropsia independente por parte das autoridades locais.
Durante a campanha eleitoral que levou à sua primeira vitória
presidencial, Obama abordou as relações entre negros e brancos no país.
Em um discurso de março de 2008, em meio a uma polêmica sobre as
opiniões de seu ex-pastor Jeremiah Wright sobre a divisão racial entre
comunidades, ele afirmou que o racismo era um problema que os Estados
Unidos não poderiam se dar ao luxo de ignorar.
Mas depois de assumir o cargo a situação mudou. Em julho de 2009,
Obama foi forçado a pedir desculpas depois de ter chamado de "estúpida" a
detenção de um amigo negro e especular sobre os motivos raciais da
prisão, sem ter informações completas.
A virada veio com o caso de Trayvon Martin, um adolescente negro de
17 anos baleado e morto em fevereiro de 2012 na Flórida por um guarda
civil quando caminhava por um bairro residencial. Depois de um
julgamento em que o acusado, que alegou ter agido em legítima defesa,
foi absolvido, Obama falou em termos muito pessoais.
Embora sem criticar a decisão, expressou a "dor" causada pelo fato
nos afro-americanos. "Eu poderia ter sido Trayvon Martin há 35 anos",
disse ele.
Adolphus Pruitt, presidente da delegação do NAACP em St Louis, disse
que os episódios em Ferguson justificam que Obama "tente lidar com o
sofrimento da população que carece de direitos neste país."
"Agora é a hora de enviar mensagens muito fortes", disse Pruitt.
"Agora alguns focos devem ser direcionados aos vizinhos de Michael
Brown."
Postado por SUELLEN DE JESUS REIS
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